Conversas por WhatsApp e dinheiro não declarado podem colocar fim ao mandato de Bagattoli

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Conversas por WhatsApp e dinheiro não declarado podem colocar fim ao mandato de Bagattoli

No aplicativo estariam as provas contra o senador acusado de usar o mandato para grilar terras em Rondônia

Com as provas, Jaime Bagattoli poderá responder à mesma Justiça que ele vem atacando constantemente

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Perto do final dessas mal traçadas linhas você verá a incrível semelhança entre o inseto conhecido popularmente como grilo e o mandato do senador Jaime Bagattoli (PL-RO). O político está em vias de perder o mandato por ter supostamente destinado R$ 100 mil reais para serem gastos em Ariquemes durante a campanha de 2022, valor não declarado em sua prestação de contas.

Conforme a denúncia, através do aplicativo WhatsApp, Sandra Aparecida de Melo e Giovany Bagattoli teriam combinado o repasse de R$ 100 mil a Ivani Roberto Cordeiro Machado, mais conhecido como Tito. Este último é empresário na área de sanduíches, e à época coordenava em Ariquemes a campanha do ex-deputado Tiziu Jidalias, que concorria a deputado federal em 2022.

Isso é o que existe oficialmente. Nos bastidores políticos circula que a informação do repasse do dinheiro teria vindo à tona após Jaime Bagattoli ter supostamente ameaçado Tito, cobrando a devolução do dinheiro, que não teria sido usado da forma que o hoje senador queria.

Também circula que o dinheiro teria sido repassado via caixa 2, porque Bagattoli gastou muito durante a campanha. O valor máximo que pode ser utilizado em uma campanha para o Senado é R$ 3.176.572,53, enquanto ele declarou ter gasto R$ 3.169.611,22, ou seja, menos de R$ 7 mil abaixo do limite.

Para não atingir o teto, Bagattoli teria usado outra suposta artimanha: declarou que alugou da Monteiro Rent a Car Ltda, pelo período de 43 dias, 4 Stradas Working, uma Saveiro e um Onix Plus, por R$ 1.924,00. O aluguel de cada carro teria custado entre R$ 300,00 e 320,00. No mesmo período, a deputada federal Silvia Cristina (PL-RO) alugou um Voyage City por R$ 6 mil.

Procuradoria Regional Eleitoral cita as conversas através do aplicativo WhatsApp

O PSDB entrou com Ação de Investigação Judicial Eleitoral, por captação ou gasto ilícito de recursos financeiros de campanha eleitoral e abuso de poder econômico. O relator é o desembargador Miguel Monico. O procurador regional eleitoral Bruno Rodrigues Chaves se manifestou, citando ilegitimidade do PSDB para provocar a ação, e também pela inadmissibilidade das provas, porque a apresentação das conversas mantidas através de WhatApp e transcritas em Ata Notarial não foi objeto de autorização judicial.

Isso quer dizer que o próprio Ministério Público Eleitoral pode ingressar com a ação, pois agora já foi provocado, pois o suposto esquema veio a público, e um escândalo desse tamanho merece ser apurado. E o MPF pode pedir autorização da Justiça Eleitoral para apresentar as provas de um suposto esquema de abuso do poder econômico, gasto ilícito de recursos e caixa 2. Ou o próprio TRE pode dar prosseguimento à ação do PSBB, por entender que isso agilizará a atuação do Judiciário.

Rasteira

Jaime Bagattoli teria dado uma rasteira no ex-prefeito de Ouro Preto do Oeste, Carlos Magno, que foi um dos coordenadores de sua campanha ao Senado. Isso porque Magno teria apresentado a Bagattoli o amigo Tito, para que este cuidasse do dinheiro do senador em Ariquemes.

Irritado, Bagattoli teria escanteado Carlos Magno e se aliado a Alex Testoni

O senador teria prometido o comando do diretório municipal do PL em Ouro Preto a Carlos Magno, mas como teria ficado furioso com Tito, participou há uma semana de uma reunião na casa da deputada federal Silvia Cristina (PL-RO) em Ji-Paraná, e entregou o diretório municipal do partido para Ninho Testoni, filho do prefeito de Ouro Preto, Alex Testoni. Ninho é pré-candidato a deputado.

Ataques ao STF

Acuado, a estratégia de Jaime Bagattoli parece ser partir para o ataque, e o alvo escolhido foi o Supremo Tribunal Federal (STF). Em discurso em Vilhena no último final de semana ele deu a entender que a Suprema Corte comete crime querendo governar o País, querendo liberar o aborto, acabando com o Marco Temporal, massacrando o agronegócio e destruindo os agricultores.

Bagattoli chegou a cúmulo de dizer que isso é o início do comunismo, alegando que foi assim que começou na Venezuela. O senador demonstra não ter noção do regime adotado pelos venezuelanos. Aparentemente ele está revoltado com o STF porque a corte julgará a situação do Marco Temporal.

No Senado, Jaime Bagattoli pretenderia votar o Marco Temporal, e isso antes do julgamento no STF, pois o senador é proprietário de uma fazenda que se sobrepõe a terra indígena.

Enfim, o grilo

Anteriormente os grilos eram usados pelos espertalhões para tomar terra dos outros. O documento mais antigo era identificado por um rudimentar aparelho, conhecido como “olhômetro”. Qualquer um olhava o documento, e pelas condições do papel identificava qual era o mais antigo. Era esse o que valia.

Então o espertalhão falsificava um documento, colocando data de compra anterior ao documento legítimo. Para que o papel parecesse muito velho, colocava-o em uma caixa cheia de grilos. Em alguns dias o documento fraudulento tinha aparência mais antiga do que o verdadeiro. Daí se originou o termo “grilagem de terras”*. Isso é coisa antiga.

Jaime Bagattoli aparentemente aderiu a um método mais moderno, a de se eleger senador com uma campanha aparentemente condenável, gastando muito dinheiro, para supostamente regularizar a documentação de uma imensa fazenda. Aí está a semelhança do mandato dele com a utilização do grilo.

O site De Olho nos Ruralistas mostrou que a fazenda São José pertence à Transportadora Giomila, que tem como sócios o senador e o irmão dele, Orlando Bagattoli. A fazenda, de acordo com o que foi mostrado, foi registrada duas vezes em sequência: a primeira em janeiro de 2007, com 1,1 mil hectares, e a segunda em novembro do mesmo ano, com 3,7 mil hectares.

Jaime Bagattoli vive a era moderna, no sistema de grilagem de terras

A propriedade era de outra família, e foi adquirida pelos irmãos Bagattoli em 2011, por meio da penhora de uma dívida contraída pelos seus antigos donos. Os registros foram feitos logo após a homologação da Terra Indígena Omerê, em abril de 2006. Como Jaime Bagattoli avaliará no Senado o projeto de lei que trata do Marco Temporal, ele foi classificado como a raposa colocada para tomar conta do galinheiro.

Bagatolli não tem trazido recursos para o Estado e tem feito pronunciamentos desencontrados, sendo considerado um zero à esquerda para o Governo de Rondônia. Aparentemente seu principal objetivo no Senado é tratar do Marco Temporal, cuidando de seus próprios negócios.

*blog também é cultura

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